Edgar Mancilla

Nesse ano, pela primeira vez, o Encontro com a Música Clássica tem um músico homenageado, o parceiro de tantos encontros Edgar Mancilla, que nos deixou em 2013, mas não sem antes ter nos entregue seu talento e eterna amizade. Sua arte esta em cada acorde do charango, em cada sopro da zamponha que tomarão conta de mais esse reencontro.

EDGAR MANCILLA

“Nos minutos em que tocamos uma música, a gente tem que colocar a nossa alma nela.” É assim que o músico Edgar Mancilla definia e mostrava sua alma a cada sopro da quena ou da zamponha, instrumentos que executava com maestria e paixão.

Edgar Gregório Mancilla Barreda, natural de Cochabamba, Bolívia, chegou ao Brasil em 1982.
Profundo conhecedor e pesquisador da música Latino Americana, era apaixonado também pela música brasileira. Iniciou seus estudos de música na Bolívia na escola primária e desenvolveu vasta pesquisa de ritmos latino-americanos por mais de 30 anos em que atuou como músico. Participou de vários grupos folclóricos como “Sol de América” (MS), “Som da América” (MS), “Quinteto Latino” (CE), “Omaguacas” (SP) entre outros.

Participou de shows em Suzano e Mogi das Cruzes (SP) e várias outras cidades brasileiras.
Em 2003 retomou junto com Miska Thomé e Heitor Correa um trabalho com a música latino-americana, que começaram em 91 na Penha “Eme Ene”, em Campo Grande, MS, originando assim o Grupo “Masis Brasil”.

O trabalho foi lançado em 2004 e também foi uma das atrações da 1° edição do “Festival América do Sul” em Corumbá, MS.  Em 2005 produziram um show caribenho que foi gravado e veiculado em Rede Nacional pela TV Brasil Pantanal (Educativa).

No Grupo Masis fazia a pesquisa musical e a idéia de fusão de vários ritmos. Tocava zampoña, zanca, toyo, quena, flauta transversal, bombo, percussão e vocal.
Fez a produção do CD "Tá Masis", lançado em 2009, onde começou sua carreira de compositor, gravando o tema instrumental "Sem Querer" (sanjuanito).

Desde então, Edgar atuou com o Grupo Masis Brasil em diversos shows e apresentações em Universidades, projetos culturais do estado e município, escolas de língua espanhola, eventos ligados à cultura e meio-ambiente em Campo Grande e outros municípios do estado.
Participou como músico convidado em gravações de CDs como do compositor Aral Cardoso e das bandas Lutano e Muchileiros.

De agosto de 2005 a agosto de 2009, junto com sua então companheira Miska Thomé, esteve à frente da organização do evento cultural que acontece na Praça República da Bolívia em Campo Grande, com apresentações artísticas, comidas típicas e feira de arte e artesanato.

Em 2010, Edgar idealizou o show “Diálogos” com a fusão do som de uma orquestra tradicional, o pop rock e a música latino-americana com a integração de três países: Brasil, Paraguai e Bolívia. A primeira apresentação aconteceu no projeto “Diálogos Sonoros” do SESC Horto com uma Camerata, a banda Muchileiros e o Grupo Masis Brasil, sob a regência do maestro Eduardo Martinelli, quando foi gravado um DVD pela TV Brasil Pantanal.

Em abril de 2011 o espetáculo foi apresentado no 8° Festival América do Sul em Corumbá, em julho no 1° Festival de Inverno de Música Erudita –Cidade das Águas em Três Lagoas, MS e em novembro na Semana da Música Erudita em Campo Grande, MS.
Em 03 de junho de 2013 Edgar foi tocar seus ventos em outros mundos, deixando um rastro de alegria, lições de carinho, grandes amizades e sua paixão pela música.

Trajetória no nordeste

Bernardo Arturo e Edgar Mancilla

Edgar chegou em Fortaleza em fevereiro 1991, juntamente com seu parceiro de música, o chileno Bernardo Arturo. Os dois se apresentavam como grupo "Sol de América", tocavam em alguns bares locais, e convidavam músicos oriundos de regiões andinas que residiam em Fortaleza. Em março do mesmo ano, Sol de América junta-se ao grupo "Tierra Libre" a convite do José Moreira, produtor do grupo. O Tierra Libre foi um grupo instrumental/vocal que unia música nordestina e andina, formada por músicos e estudantes do curso de música da UECE (Universidade Estadual do Ceará), a arte-educadores, o que despertou em  Edgar, o interesse em estudar sobre os ritmos do nordeste brasileiro.

Tierra Libre

Mais que um grupo de palco, o Tierra Libre foi uma oficina de música, pois integrava vários músicos e alunos da universidade interessados na fusão das construções rítmicas da música andina e música nordestina, criadas pelo Edgar Mancilla e o Marcus Feitosa, seu parceiro no naipe de flautas andinas, fazendo assim, escola em alguns projetos sociais, com crianças e adolescentes em áreas de situação de risco na cidade de Fortaleza. Tierra Libre - integrantes: José Moreira, Helder Ramalho, Neno Brasileiro, Eliete Thomás, Janaina Feitosa, Eliahne Brasileiro, e os participantes Edgar Mancilla e Bernardo Arturo (Sol de América)

Em 1992, Edgar Mancilla, Marcus Feitosa, Eliahne Brasileiro, Erasmo Lousada e Junior Lobo, formam o "Quinteto Latino", grupo vocal/instrumental, com o propósito de levar ao público a mistura de sons e ritmos afro-ameríndios. Com excelente repercussão na mídia local.

O Quinteto Latino tinha Edgar como solista principal do grupo. Durante três anos (1991 a 1993), Edgar Mancilla tornou-se um ícone da música instrumental andina em Fortaleza; tocou em todos os espaços culturais da cidade, desde o recanto mais simples até o Teatro José de Alencar, palco de grandes e importantes eventos culturais da cidade naquela ocasião. Repassou, paciente e incansável, seus conhecimentos para todos os que se interessavam em aprender a tocar quena e zamponha; além de atuar como músico, participou também de várias manifestações em prol da cultura artística local.

Em agosto de 1993, o Quinteto Latino encerra suas atividades e Edgar Mancilla segue até inicio de novembro daquele ano, fazendo apresentações em bares, restaurantes, centro culturais, em parceria com Eliahne Brasileiro e o músico boliviano Ruan, seguindo depois para São Paulo.

Além de Fortaleza, outras cidades do Ceará também registraram o seu inesgotável talento: Ainda no Tierra Libre, participou da inauguração do Teatro Raquel de Queirós, no I Festival de Teatro da cidade de Guaramiranga/CE, festival que hoje é reconhecido no âmbito internacional. Tocou em cidades históricas como Limoeiro do Norte; Sobral, Itapipoca.